110º Aniversário de Antoine de Saint-Exupéry

(Principezinho)
“Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a tornou tão importante".
"As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!"
“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

(Outras citações)

"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."

"A perfeição não é alcançada quando não há mais nada a ser incluído, mas sim quando não há mais nada a ser retirado."

"O verdadeiro homem mede a sua força, quando se defronta com o obstáculo."


Saint-Exupéry

Rendilhado de madeira

Família

Não é muito comum escrever sobre a minha família, mas hoje desafiei-me a fazê-lo. Se não o fiz antes de forma objectiva e propositada não foi por achar que não é um assunto importante, mas sim por ser difícil encontrar palavras que exteriorizem o que sinto por eles.
Agora, fisicamente mais distante, sinto o poder, a influência e os ensinamentos dos meus pais. Não sinto que esteja longe, porque falo todos os dias com eles e estão sempre presentes naquilo que digo e que faço, mas sinto saudade... Estão sempre presentes porque posso dizer orgulhosamente que aquilo que sou é resultado da sua educação. A descoberta diária do meu Eu é como a descoberta de uma floresta plantada por eles há alguns anos e que procuro cuidar para que continue a crescer, longe das ervas daninhas, que teimam sempre em aparecer.
Pai, obrigado pela atitude que sempre mostrou e que me fez ser um lutador, honesto, humilde, exigente  e respeitado.
Mãe, obrigado pela forma como demonstrou sempre a sua felicidade na procura da felicidade dos outros e que me fez ser um romântico, um ser carinhoso, dedicado ao outro e tolerante.
Ambos têm sido para mim o pilar principal da minha vida e hoje sinto que só sou feliz porque partilharam comigo e com a Vera tudo de bom e de mau que é a vida - uma aprendizagem única. Mostraram-nos aos dois a importância, a força, a confiança do que é ser uma Família, numa sociedade onde os valores interiores parecem diluir-se numa ganância desmedida do eu, eu, eu...
Desde há algum tempo que sei o significado de partilharmos entre nós todos as decisões, os caminhos, os desgostos e as felicidades, porque somos uma Família e é nessa bolha que encontramos a força para continuar com sentido a nossa vida.
Num sítio diferente, socializando com pessoas que não me conheciam, descubro-me diariamente e sinto cada frase, cada atitude, cada ensinamento, cada olhar vosso a ganhar sentido e a proporcionar-me as razões para continuar a ser a pessoa que sinto que sou, seguindo os valores que me transmitiram.
Obrigado. Tenho muito orgulho em vós.
Um beijo grande para a minha mana.

Nuno Garção

Para quê trazer um prémio quando podemos trazer três

No final do mês passado acompanhei o Adriano e o António até Cabanas de Tavira a fim de fazermos o gosto ao dedo e ao olho. Para além do dia bem passado junto destes dois amigos, tive a oportunidade de conhecer uma localidade muito bonita, envolvida pela Ria Formosa e marcada pela arte da pesca. Mas a razão da nossa deslocação prendia-se com o concurso de fotografia "Sentir Cabanas" e durante várias horas lá fomos congelando momentos e sítios sempre que premíamos o botão da nossa máquina... mais uma fachada, mais um barco, mais uma gaivota, mais uma perspectiva, mais uma pessoa... Depois de uma visita a um bom restaurante e de termos trocado entre nós algumas impressões sobre as fotos que cada um deveria pôr a concurso regressámos a casa.
Ontem voltámos à localidade na esperança que um de nós, entre muitos concorrentes, arrecadasse um dos prémios. Na realidade eu estava confiante que um dos dois meus amigos iria ganhar um dos prémios, mas para quê trazer apenas um prémio quando podemos trazer os três primeiros lugares?... 
Depois de visionarmos todas as fotos, depois de termos tido consciência que havia muitos bons trabalhos e depois de termos perdido alguma esperança em ganharmos alguma coisa, algo de surpreendente acontece quando começam a chamar os vencedores: 3º lugar - António Guerreiro, 2º lugar - Nuno Garção e 1º lugar - Adriano Costa. 
Simplesmente não queríamos acreditar. Fomos lá e trouxemos os prémios todos. 
Resta dizer que o júri teve muito bom gosto e difícil foi trazer todos os prémios no carro.
Adriano e António, mais importante que os prémios é saber que tenho dois amigos que partilham comigo um mesmo gosto - a fotografia.
E já agora: PARABÉNS.
Até à próxima batida.

Nuno Garção

Cabanas de Tavira




Concurso de Fotografia "Sentir Cabanas"

Acreditar

As coisas correm bem porque acreditamos e fazemos com que os outros acreditem que podem correr bem. 
Às vezes as coisas só não acontecem porque não acreditamos que podem acontecer.

Nuno Garção

A Racionalidade Irracional

"Eu digo muitas vezes que o instinto serve melhor os animais do que a razão a nossa espécie. E o instinto serve melhor os animais porque é conservador, defende a vida. Se um animal come outro, come-o porque tem de comer, porque tem de viver; mas quando assistimos a cenas de lutas terríveis entre animais, o leão que persegue a gazela e que a morde e que a mata e que a devora, parece que o nosso coração sensível dirá «que coisa tão cruel». Não: quem se comporta com crueldade é o homem, não é o animal, aquilo não é crueldade; o animal não tortura, é o homem que tortura. Então o que eu critico é o comportamento do ser humano, um ser dotado de razão, razão disciplinadora, organizadora, mantenedora da vida, que deveria sê-lo e que não o é; o que eu critico é a facilidade com que o ser humano se corrompe, com que se torna maligno.

Aquela ideia que temos da esperança nas crianças, nos meninos e nas meninas pequenas, a ideia de que são seres aparentemente maravilhosos, de olhares puros, relativamente a essa ideia eu digo: pois sim, é tudo muito bonito, são de facto muito simpáticos, são adoráveis, mas deixemos que cresçam para sabermos quem realmente são. E quando crescem, sabemos que infelizmente muitas dessas inocentes crianças vão modificar-se. E por culpa de quê? É a sociedade a única responsável? Há questões de ordem hereditária? O que é que se passa dentro da cabeça das pessoas para serem uma coisa e passarem a ser outra? 
Uma sociedade que instituiu, como valores a perseguir, esses que nós sabemos, o lucro, o êxito, o triunfo sobre o outro e todas estas coisas, essa sociedade coloca as pessoas numa situação em que acabam por pensar (se é que o dizem e não se limitam a agir) que todos os meios são bons para se alcançar aquilo que se quer.
Falámos muito ao longo destes últimos anos (e felizmente continuamos a falar) dos direitos humanos; simplesmente deixámos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. Isso, de facto, não posso entender, é uma das minhas grandes angústias."

José Saramago (Diálogos com José Saramago)

Some lives are linked across time



"Some lives are linked across time... They are connected by an ancient calling that echoes throught the ages... Destiny."
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Prince of Persia: The Forgotten Sands
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Além desta frase muito interessante não posso deixar de salientar a interessante mensagem que o filme passa sobre a importância da família (confiança) e o destino iluminado pelo instinto do coração.

O que eu quero

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Eu não quero que me digas! 
Quero que o sintas, quero sentir que o sentes.
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Nuno Garção
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O Alentejo

."O Alentejo não é tristeza, é poesia."
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José Régio
(José Maria Pereira Reis)

Em Portalegre, cidade do Alto Alentejo...

Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,

Morei numa casa velha,
Velha, grande, tosca e bela,
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...
Cheia de bons e maus cheiros
De casas que têm história,
Cheia de ténue, mas viva, obsidiante memória,
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncio e de espantos,
- Quis-lhe bem, como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como ao do meu aconchego.
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De montes e de oliveiras,
Do vento soão queimada,
(Lá vem o vento soão!,
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão...)
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
Na tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela,
Tinha então,
Por única diversão,
Uma pequena varanda
Diante duma janela.
Toda aberta ao sol que abrasa,
Ao frio que tolhe, gela,
E ao vento que anda, desanda,
E sarabanda e ciranda
De redor da minha casa,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Era uma bela varanda,
Naquela bela janela!
Serras deitadas nas nuvens,
Vagas e azuis da distância,
Azuis, cinzentas, lilases,
Já roxas quando mais perto,
Campos verdes e Amarelos,
Salpicados de Oliveiras,
E que o frio, ao vir, despia,
Rasava, unia
Num mesmo ar de deserto
Ou de longínquas geleiras,
Céus que lá em cima, estrelados,
Boiando em lua, ou fechados
Nos seus turbilhões de trevas,
Pareciam engolir-me
Quando, fitando-os suspenso
Daquele silêncio imenso,
Sentia o chão a fugir-me,
- Se abriam diante dela
Daquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Na casa em que morei, velha,
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
À qual quis como se fora
Tão feita ao gosto de outrora
Como as do meu aconchego...
Ora agora,
?Que havia o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Que havia o vento suão
De se lembrar de fazer?
Em Portalegre, dizia,
Cidade onde então sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
?Que havia o vento suão
De fazer,
Senão trazer
Àquela
Minha
Varanda
Daquela
Minha
Janela,
O documento maior
De que Deus
É protector
Dos seus
Que mais faz sofrer?
Lá num craveiro, que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Poisou qualquer sementinha
Que o vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Achara no ar perdida,
Errando entre terra e céus...,
E, louvado seja Deus!,
Eis que uma folha miudinha
Rompeu, cresceu, recortada,
Furando a cepa cansada
Que dava cravos sem vida
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...
?Como é que o vento suão
Que enche o sono de pavores,
Faz febre, esfarela os ossos,
Dói nos peitos sufocados,
E atira aos desesperados
A corda com que se enforcam
Na trave de algum desvão,
Me trouxe a mim que, dizia,
Em Portalegre sofria
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for,
Me trouxe a mim essa esmola,
Esse pedido de paz
Dum Deus que fere ... e consola
Com o próprio mal que faz?
Coisas que terei pudor
De contar seja a quem for
Me davam então tal vida
Em Portalegre; cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
Me davam então tal vida
- Não vivida!, sim morrida
No tédio e no desespero,
No espanto e na solidão,
Que a corda dos derradeiros
Desejos dos desgraçados
Por noites do tal suão
Já varias vezes tentara
Meus dedos verdes suados...
Senão quando o amor de Deus
Ao vento que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda,
Confia uma sementinha
Perdida entre terra e céus,
E o vento a trás à varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tôsca e bela
À qual quis como se fôra
Feita para eu morar nela!
Lá no craveiro que eu tinha,
Onde uma cepa cansada
Mal dava cravos sem vida,
Nasceu essa acàciazinha
Que depois foi transplantada
E cresceu; dom do meu Deus!,
Aos pés lá da estranha casa
Do largo do cemitério,
Frente aos ciprestes que em frente
Mostram os céus,
Como dedos apontados
De gigantes enterrados...
Quem desespera dos homens,
Se a alma lhe não secou,
A tudo transfere a esperança
Que a humanidade frustrou:
E é capaz de amar as plantas,
De esperar nos animais,
De humanizar coisas brutas,
E ter criancices tais,
Tais e tantas!,
Que será bom ter pudor
De as contar seja a quem for!
O amor, a amizade, e quantos
Mais sonhos de oiro eu sonhara,
Bens deste mundo!, que o mundo
Me levara,
De tal maneira me tinham,
Ao fugir-me,
Deixando só, nulo, vácuos,
A mim que tanto esperava
Ser fiel,
E forte,
E firme,
Que não era mais que morte
A vida que então vivia,
Auto-cadáver...
E era então que sucedia
Que em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Aos pés lá da casa velha
Cheia dos maus e bons cheiros
Das casa que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- A minha acácia crescia.
Vento suão!, obrigado...
Pela doce companhia
Que em teu hálito empestado
Sem eu sonhar, me chegara!
E a cada raminho novo
Que a tenra acácia deitava,
Será loucura!..., mas era
Uma alegria
Na longa e negra apatia
Daquela miséria extrema
Em que vivia,
E vivera,
Como se fizera um poema,
Ou se um filho me nascera."

José Régio

O meu amor


"O
meu amor tem lábios de silêncio
E mão de bailarina
E voa como o vento
E abraça-me onde a solidão termina.

O meu amor tem trinta mil cavalos
A galopar no peito
E um sorriso só dela
Que nasce quando a seu lado eu me deito.

O meu amor ensinou-me a chegar,
Sedento de ternura.
Separou as minhas feridas
E pôs-me a salvo para além da loucura.

O meu amor ensinou-me a partir
Nalguma noite triste.
Mas antes, ensinou-me
A não esquecer que o meu amor existe."

Jorge Palma

Sabedoria da vida...

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"A sabedoria da vida não consiste em fazer aquilo que se gosta, mas em gostar do que se faz."

Leonardo da Vinci