Apressa-te a viver bem

Se um homem não sabe
o que quer e para onde quer ir,
nenhum vento lhe será favorável
nas suas caminhadas.
Poderá ter tudo a seu jeito,
ser uma pessoa bafejada pela sorte,
ter o amor em seu redor,
mas se não souber dar valor,
se não souber o que fazer com tudo isso
será um viajante perdido
num deserto.

Pensando nessa caminhada
que é a vida,
o importante não está
em nos questionarmos se temos
uma vida curta,
mas sim percebermos
quanto desperdiçamos
desse tempo que temos
com momentos sem prazer
e sem aprendizagem.

E lá andamos nós,
preocupados em viver muito,
em fazer muito,
e esquecemo-nos de viver bem.
Na realidade, não depende de nós
vivermos pouco ou muito,
mas sim sabermos viver bem
com o tempo que temos.


Logo, apressa-te a viver bem

e pensa que cada dia,
cada momento, é,
por si só, uma vida...

... o que fazes com a tua vida.

Nuno Garção
(Inspirado nos dizeres de Séneca)

Há dias assim...

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Hoje, durante todo o dia, senti uma sensação de felicidade que fez com que chegasse a casa e sentisse a necessidade de me sentar a escrever estas palavras: sinto-me feliz por quem sou.
Sou alguém que depende dos outros, dos seus sorrisos, das suas palavras, dos seus carinhos, das suas sábias apreciações. Sou aquilo que aprendo e apreendo dos outros. Sou o resultado das reflexões que os outros provocam na minha própria natureza de ser.
Durante todo o dia fui olhando em redor e tomei consciência que sou, além de tudo, uma pessoa com sorte, por estar rodeado de pessoas que me fazem olhar a vida de forma interessante.
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Hoje quando falei com alguém tive a preocupação de a olhar nos olhos e percebi, em primeiro lugar, que há vários tipos de olhos, todos eles bonitos, com as suas particularidades. Por outro lado, percebi que dentro de cada olhar há algo de genuíno e quero acreditar, algo de sincero e único. Há dias assim, e hoje senti que todas as pessoas que me olharam nos olhos foram verdadeiras e profundamente genuínas nas atitudes e nas palavras.
Dei um pouco mais de atenção às suas expressões, às suas palavras, e olhei a natureza humana no seu esplendor: vi o calor com que a minha mulher fala comigo, o entusiasmo com que os meus colegas de trabalho trocaram ideias comigo e a atenção e admiração com que os meus alunos me olharam. E não posso deixar de pensar na forma fácil com que consegui arrancar um sorriso apenas com um simples olhar ou com o mover dos lábios. Há dias assim.
Na verdade é como se sentisse na minha mão cada momento e tivesse consciência o quanto estava a contribuir para que essa fracção de tempo fosse envolvida por felicidade. Por outro lado, senti que não é complicado contribuir para provocar no outro essa mesma sensação de felicidade. Apenas foi necessário atenção, tempo e dedicação.
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Agora estou só e olho pela janela. Observo a Natureza e encontro singularidade e beleza em tudo. Olho novamente aquilo que já tinha visto e verifico que na seguinte observação tenho ainda a possibilidade de descobrir algo novo e interessante naquilo que os meus olhos me dão a ver. Há sempre algo de surpreendente na segunda e na terceira vez com que observamos com atenção qualquer coisa. E o mesmo acontece se olharmos as pessoas desta forma: se as olharmos com atenção, uma, duas e três vezes, como se fosse sempre a primeira vez que as olhássemos
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Não posso deixar de acreditar que tudo o que existe de puro à nossa volta é belo e feito para podermos contemplar com atenção, tempo e dedicação. Estes três aspectos permitem-nos olhar as pessoas um pouco mais além dos muros que alguns erguem contra o olhar dos outros.
Se todos acreditássemos e percebêssemos quanto somos importantes se formos genuínos, sinceros e únicos, compreenderíamos o que é e o que desencadeia a felicidade.
Como gostaria que todos me olhassem como as pessoas que passaram por mim neste dia me olharam.
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Obrigado a todos os que hoje, sem terem consciência, me proporcionaram um dia feliz. 
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Obrigado a todos os que se cruzaram comigo e fizeram desde dia normal, um dia assim.

Nuno Garção

Invictus


"Out of the night that covers me,

Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul."

(William Ernest Henley, 1875)

(tradução)

O manto da noite que me cobre,
Negro como o poço da morte,
Agradeço a qualquer Deus que exista
Pela minha alma inquebrável.

Nas garras cruéis da circunstância
Eu não vacilei nem gritei.
Sob os golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas permanece erguida.

Além deste lugar de rancor e lágrimas

Somente o horror das sombras se anuncia,
E mesmo a ameaça dos anos
Encontra e encontrar-me-á, sem temor.

Não importa quanto estreito seja o portão,
Quanto repleto de castigos, o veredicto,

Eu sou o mestre do meu destino:
Eu sou o capitão da minha alma
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O que amo?


Não tenho tudo o que gostaria de ter, mas amo tudo o que tenho!

Nuno Garção

Somatório de tudo o que não perdi*


"Nunca se recupera o que se deixou fugir..." (Rosa)
"Eu sou aquilo que perdi." (Gi)

Em resposta:
Se fugiu é porque não se tinha que recuperar.
Só aquilo que é possível recuperar vale a pena.


Eu
, sou o somatório de tudo o que não perdi.
O passado preenche-nos e enriquece-nos, o presente indica-nos que estamos vivos e o futuro faz-nos sonhar.

Nuno Garção

Solidão


"Solidão não é falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo. Isso é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar. Isso é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos. Isso é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsivamente para que revejamos a nossa vida... Isso é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio da gente ao nosso lado. Isso é circunstância.
Solidão é muito mais que tudo isto. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão a nossa alma".

Francisco Buarque da Holanda (Chico Buarque)

Words Don't Came Easy


Hoje quando regressava a casa, ouvi na rádio uma música que me transportou para a minha pré-adolescência.
Quem não se lembra deste clássico?
Vale a pena ler a letra.



Words, don't come easy to me
How can I find a way to make you see I Love You
Words don't come easy

Words, don't come easy to me
This is the only way for me to say I Love You
Words don't come easy

Well I'm just a music man
Melody's so far my best friend
But my words are coming out wrong and I
I reveal my heart to you and
Hope that you believe it's true cause

Words, don't come easy to me
How can I find a way to make you see I love You
Words don't come easy

This is just a simple song
That I've made for you on my own
There's no hidden meaning you know when I
When I say I love you honey
Please believe I really do cause

Words, don't come easy to me
How can I find a way to make you see I Love You
Words don't come easy

It isn't easy
Words don't come easy
Words, don't come easy to me
How can I find a way to make you see I Love You
Words don't come easy

Don't come easy to me
This is the only way for me to say I Love You
Words don't come easy

F. R. David [Singles: "Words" (1981) e "Words (Edit.)" (1991)]

Natureza, impressionante!


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"O sismo de 27 de Fevereiro no Chile que matou mais de 700 pessoas terá feito os dias na Terra mais curtos – embora imperceptivelmente, apenas 1,26 milionésimos de segundo mais curtos. Mas o eixo de rotação do planeta ter-se-á deslocado cerca de oito centímetros, em resultado do abalo de magnitude 8,8 na escala de Richter. [...]
No terramoto de 9,1 na escala de Richter de Sumatra e no tsunami do Sudoeste Asiático que se lhe seguiu, a 26 de Dezembro de 2004, o dia terá diminuído 6,8 milionésimos de segundo e o eixo da Terra (o ponto imaginário em torno do qual a Terra roda sobre si própria) ter-se-á deslocado sete centímetros. [...]
E por que é que o sismo do Chile, tendo uma magnitude mais reduzida que o de Sumatra, deslocou o eixo em oito centímetros, enquanto o de Sumatra se ficou por sete? “Primeiro, o de Sumatra localizou-se perto do Equador, e o do Chile numa latitude média, o que o torna mais eficiente a desviar o eixo da Terra”, diz o comunicado da NASA que dá a conhecer os resultados de Gross. “Em segundo lugar, a falha [geológica] responsável pelo sismo de 2010 mergulha na Terra num ângulo mais agudo do que o de 2004. Isto faz com que a falha do Chile seja mais eficaz a mover a massa da Terra verticalmente e, assim, a desviar o eixo da Terra.”

http://www.publico.clix.pt (02-03-10)

Procurar o equilíbrio interior

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Hoje, mais um vez, procuro a minha harmonia interior como que uma âncora para me poder agarrar, mas olho em redor e encontro uma desordem consentida por todos.
Penso nos valores fundamentais para manter esse equilíbrio, mas vejo que na sociedade são outros os valores que vingam e fazem história. Lembro-me constantemente de coisas como a dedicação, a partilha, a sinceridade, a amizade, o respeito, a humildade, o amor, a verdade, a família, aspectos que sempre estiveram na base da minha educação, mas por outro lado encontro um mundo que transmite e promove o egoísmo, a mentira, a violência, a calúnia, o roubo, a exploração, a falta de respeito, o isolamento, ...
Procuro lembrar-me constantemente dos valores ideais e repudiar os que destroem o interior de cada um e a harmonia de todos.
Tento todos os dias passar esses ideais e formar pessoas capazes de mudar este estado de coisas, mas ao mesmo tempo vejo inúmeras acções à minha volta a desencadear a replicação de comportamentos pouco dignos para a humanidade.
Procuro um equilíbrio interno que me possa dar a lucidez para perceber o que se passa à minha volta, com as pessoas, com os políticos, com os países, com a Natureza, com o futuro da Humanidade e assusto-me.
Encontro famílias destroçadas, pessoas sem tempo para dar amor aos outros, pessoas corruptas que destroem as bases de uma sociedade, indivíduos que exploram a vida dos outros tornando-os escravos em benefício de apenas alguns, pessoas sem emprego e forma de ganhar dinheiro para as suas necessidades básicas enquanto outras acumulam somas extraordinárias sem fazer nada, crianças sozinhas e perdidas entre discussões e horas de televisão a ver programas medíocres e para adultos...
Paro e procuro novamente alento, força para gritar para dentro de mim: é necessário mudar isto; é necessário romper com esta dormência egoísta que não nos leva a lado nenhum enquanto um todo.
É preciso reorientar as prioridades das pessoas e mostrar-lhes que a felicidade e a alegria são possíveis para todos e conseguem-se com coisas simples, começando pela partilha e o amor.
Vejo que não é fácil.... A poeira que se levanta envolve-nos como um manto falsamente quente e fofo que nos impede de ver realmente, agitada por alguns adeptos da desordem e do egoísmo. E vamos ficando imóveis e passivos.
Procuro a minha harmonia interior como que uma âncora para me poder agarrar e consigo encontrá-la após esta breve reflexão. Compreendo que esse equilíbrio interno toma forma acreditando que todos os dias posso fazer um pouco para mudar o que está à minha volta e evitar entrar no sonambulismo em que se encontra a sociedade.
Os últimos acontecimentos dão-me força ao verificar que ainda existe solidariedade, ainda que seja apenas na desgraça e não no dia-a-dia. Quero acreditar que essa solidariedade é verdadeira e real e que se pode generalizar a todos aqueles que sofrem em silêncio e são vítimas deste estado de coisas.
Volto novamente à minha vida na esperança que o amanhã seja diferente.

Nuno Garção