Regresso ao passado... "estila" do medronho

Hoje pelas 11h00, eu e mais um grupo de amigos percorríamos a estrada com o destino a Monchique, na expectativa de descobrir o nosso Portugal mais profundo e os métodos tradicionais de produção de aguardente de medronho. Para ser sincero também esperava mais um daqueles grandes momentos de convívio, onde o que apenas interessa é estarmos. Estarmos bem uns com os outros. Obviamente que as expectativas foram superadas.
Já em Monchique, parámos no café Palmeirinha onde, enquanto esperávamos pelos atrasados e tomávamos café, providenciámos os mantimentos para um mergulho nas profundezas da Serra de Monchique.
Depois da compra de carne num talho tradicional, iniciámos a nossa segunda viagem de 14 km a uma zona que o que tinha de inóspito tinha certamente de belo. Depois de uma placa a indicar o sítio da Perna da Negra, continuámos por uma descida que contornava a serra, indo desembocar num vale onde o silêncio era preenchido pela música da natureza pura.
Chegados a Taipas, deixámos os carros junto a um pequeno aglomerado de casas e entrámos noutra época, onde o tradicional e o rural vieram ao de cima: não só no cenário, mas na forma como vivenciámos aquele momento.
Primeiro tomámos consciência de que estávamos sem rede e sem qualquer contacto com o exterior (alguns ainda procuraram rede nos pontos mais altos), mas depressa percebemos que isso nada interessava para uma tarde bem passada entre petiscos de porco preto, prova de aguardente de medronho, cantigas e desgarradas (com laivos de blues), conversas animadas e a descoberta de como se destila o medronho.



Num cenário de há 50 anos, o Sr. Zé e o Pedro foram passando para todos nós os conhecimentos desta arte. Ao longo de várias horas assistimos aos vários processos necessários para produzir aguardente de medronho e no final, como não podia deixar de ser, provámos a bebida que surgia directamente do alambique.



Como a natureza também merecia uma exploração, descemos até ao ponto mais baixo do vale para ouvirmos cantar mais de perto o som da água que serpenteava as elevações.
Quando chegámos ao rio, a natureza no seu esplendor abre os céus e faz derramar sobre nós uma enorme chuvada. De regresso à "estila" e sem pressas, pois de molhados já não passávamos, sentimos que aquele momento estava previsto e fez-nos sentir o que é estar completamente expostos à natureza. E como se fazia há muitos anos, usámos um processo tradicional para nos enxugarmos: lenha a arder dentro de casa a um canto, numa alcatifa de pedra, libertando o cheiro e uma nuvem de fumo que fez chorar os olhos menos habituados a estas coisas.
A festa continuou pela noite fora e ninguém sentiu frio, pois o calor humano era muito; sentia-se nas conversas, risadas e nas cantigas de improviso. Houve mesmo a revelação de cantores e foi gravado o inédito êxito "Na minha 4L, no mê da estrada".
Quando toda a gente já pensava que a noite estava terminada e pouco mais haveria que nos surpreendesse é chegado o momento em que aparece um grupo de músicos ingleses que se juntaram à festa e fizeram um espectáculo para todos nós. De forma mágica, entre pipas de medronho, surgem duas guitarras, um contrabaixo e um saxofone acompanhados pelos seus tocadores, emanando um som, variando entre o jazz e o rock dos anos mais remotos. O pessoal foi-se acomodando pela casa de paredes pretas de pedra e de barro e fizeram uma roda à volta dos músicos, deixando a um canto o alambique a deitar a aguardente...



Obrigado Pedro. Obrigado Sr. Zé.



Nuno Garção

Um dia vou construir um castelo

"Posso ter defeitos, viver ansioso
e ficar irritado algumas vezes mas
não esqueço de que minha vida é a
maior empresa do mundo, e posso
evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale
a pena viver apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos
de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um "não".

É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir
um castelo…"


Fernando Pessoa