Os livros...

Adoro livros com frases que nos fazem pensar e nos deixam no limbo sem resposta e atormentados com o facto de ainda nos estarmos a descobrir...

Porque a vida não é mais do que a nossa descoberta, da aprendizagem em relação ao que é significativo para cada um de nós, os sonhos, as experiências, as dádivas, o conhecimento que adquirimos com os outros e com a nossa vivência e o que fazemos com isso no sentido de sermos cada vez mais nós e coerentes com o nosso interior e destino. 


Nuno Garção

Paixão

Pensas também que o significado da vida não seja outro senão a paixão, que um dia invade o nosso coração, a nossa alma e o nosso corpo, e depois arde para sempre, até à morte? Aconteça o que acontecer? E que se nós vivemos essa paixão, talvez não tenhamos vivido em vão? E talvez não se dirija a uma pessoa em concreto, mas apenas ao desejo mesmo?... essa é a pergunta. Ou dirige-se a uma pessoa em concreto, desde sempre e para sempre à única e mesma pessoa misteriosa, que pode ser boa ou má, mas cujas acções e qualidades não influenciam a intensidade da paixão que nos une a ela?

(«As velas ardem até ao fim» - Sándor Márai)

Present

“Yesterday is history, tomorrow is a mystery, but today is a gift. That is why it is called the present.”

Porque ...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

A beleza das coisas

"Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!"

Alberto Caeiro

Palavras perdidas

"Palavras que disseste e já não dizes, 
palavras como um sol que me queimava, 
olhos loucos de um vento que soprava 
em olhos que eram meus, e mais felizes. 

Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...

Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
— que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas."

Pedro Tamen

Reflexão sobre a amizade


"Para o meu pai, a palavra «amizade» significava exatamente o mesmo que honra. [...] Deixa-me dizer-te que, para mim, talvez significasse ainda mais. [...]
Era bom saber se existe amizade realmente? Não me refiro àquele prazer ocasional que faz com que duas pessoas fiquem contentes porque se encontraram, porque num determinado período das suas vidas pensavam da mesma maneira sobre certas questões, porque os seus gostos são semelhantes e os seus passatempos iguais. Nada disso é amizade. Às vezes, chego a pensar que essa é a relação mais forte na vida... talvez por isso seja tão rara. E o que há no seu fundo? Simpatia? É uma palavra imprópria, sem sentido, o seu conteúdo não pode ser suficientemente forte para que duas pessoas intervenham em defesa um do outro nas situações mais críticas da vida... apenas por simpatia? Talvez seja outra coisa?... Talvez exista uma pitada de Eros no fundo de todas as relações humanas? Aqui, na solidão e na floresta, enquanto tentava perceber todas as questões da vida, visto que não tinha outra coisa para fazer, por vezes pensei nisso. [...]
A amizade é a relação humana mais nobre que pode haver entre os seres vivos humanos. É curioso, os animais conhecem-na também. Existe amizade, altruísmo, solidariedade entre os animais. [...] Os seres vivos organizam-se para prestar ajuda mútua... às vezes, têm dificuldades em ultrapassar os obstáculos que enfrentam nas suas intervenções de auxílio, mas sempre há criaturas fortes, prontas a ajudar, em todas as comunidades vivas. Encontrei centenas de exemplos disso no mundo animal. Entre pessoas vi menos exemplos... [...] As simpatias que vi nascer entre pessoas diante dos meus olhos, acabaram sempre por se afogar nos pântanos do egoísmo e da vaidade. A camaradagem, o companheirismo, às vezes parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, da maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas que essa intimidade é uma espécie de amizade. Naturalmente, nesses casos, não se trata de verdadeira amizade. Uma pessoa imagina que a amizade é um serviço. O amigo, assim como o(a) namorado(a), não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal? E se um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quanto vale aquela amizade em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade ou perseverança? Quanto vale qualquer afeto que espera recompensa? Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel? Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humanas, esse altruísmo que não quer nada e não espera nada, absolutamente nada do outro? E quanto mais dá, menos espera em troca? E se entrega ao outro toda a confiança duma juventude, toda a abnegação da idade viril e finalmente oferece a coisa mais preciosa que um ser humano pode proporcionar a outro ser humano, a sua confiança absoluta, cega e apaixonada, e depois vê confrontado com o facto de o outro ser infiel e vil, tem direito de se ofender, de exigir a vingança? E se se ofende e grita por vingança, era realmente amigo, o traído e abandonado? Vês, dediquei-me a essas questões teóricas quando fiquei sozinho. Naturalmente, a solidão não me deu resposta. Nem os livros deram resposta perfeita."

(«As velas ardem até ao fim» - Sándor Márai)

Salto Tandem de 4200m - Évora

"I believe I can fly
I believe I can touch the sky
I think about it every night and day
Spread my wings and fly away"

Altitude: 4200m
Tempo aproximado em queda livre: 60 segundos
Velocidade aproximada: 200km/h
Data: 01 de Setembro de 2012
Hora: 10h
Instrutor: Jaime Faustino