Olhares de Portimão, através da objectiva da minha câmara.
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Batida fotográfica de Portimão 2010.
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Nuno Garção
Um espaço onde vou colocando o que me vai surgindo entre a caneta e o papel.
"Sinto vergonha de mim..."
Poema com quase um século e tão actual.
"Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte deste povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a qualquer custo,
buscando a tal 'felicidade'
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos 'floreios' para justificar
actos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre 'contestar',
voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo [deste mundo]!
'De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'."
Rui Barbosa
"Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte deste povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a qualquer custo,
buscando a tal 'felicidade'
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos 'floreios' para justificar
actos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre 'contestar',
voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo [deste mundo]!
'De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'."
O silêncio dos bons... preocupa-me!
"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons."
Martin Luther King
Recordando a minha aldeia: Carreiras
"Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."
Alberto Caeiro
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."
Alberto Caeiro
Mais uma vez, sobre o estado das coisas...
Durante estas últimas semanas evitei ver as notícias, porque considero que as mesmas me têm provocado algum desânimo e mau estar. Ouço falar da economia, da economia, da crise, da crise, da crise, da educação, ou da falta dela, da pobreza e da riqueza na proporção inversa, da violência, da corrupção, da falta de vergonha...
Onde está a esperança?
Enfim, pergunto-me o que se está a passar à minha volta. E com este estado de coisas confesso que às vezes me apetece ser como a avestruz. É óbvio que não consigo fechar os olhos para viver a minha vida. A recente comemoração do 25 de Abril fez-me pensar que temos que dizer, cada dia e em voz bem alta, aquilo que pensamos sobre este estado de coisas, que deveriam envergonhar governantes e pessoas com cargos de responsabilidade.
Economia. As últimas notícias apontam para a especulação e a pressão que alguns "senhores" fazem sobre os países que acumulam um volume de dívida externa elevado. Fico mesmo sem saber se são estes senhores quem devo odiar pela especulação a que nos têm ultimamente habituado ou aqueles que irresponsavelmente nos vão colocando nesta situação de dependência.
Riqueza e pobreza. Afinal, como é possível que neste jogo continuemos a ver pessoas a enriquecer de forma escandalosa enquanto que a maioria vai ficando cada vez mais pobre, sem condições para viver e sujeitas aos caprichos de quem manipula os mercados. Afinal, não será esta uma nova ditadura em que tudo parece democracia, mas na realidade é algo controlado por um "big brother" que estuda os movimentos da sociedade, se alimenta com uma ganância desmedida e com o aval da classe política que gere sem preocupação e sem respeito o que é de todos nós? Triste figura de quem enriquece à custa daqueles que vão ficando sem emprego, sem possibilidade de dar uma vida digna aos filhos e de poder desfrutar deste mundo que também é seu. Triste figura de quem não consegue olhar para o lado e perceber que se trata de um semelhante... Estou certo que cada um de nós também tem alguma culpa neste estado de coisas: não é por acaso que há dois dias fiquei escandalizado pelo facto das três pessoas que estavam à minha frente numa caixa de uma loja de uma grande superfície efectuarem as suas compras pedindo créditos. Olhei com mais atenção e reparei que uma delas o fazia para comprar bens de primeira necessidade...
A desculpa da crise. Vejo mais algumas notícias e ouço falar em cortes, cortes na função pública e obviamente (por arrasto) nos trabalhadores do privado. Mais uma vez pergunto: Mas por que razão esses cortes são imputados aos que realmente trabalham? Não são eles que andam a pagar as sucessivas crises que nos atiram aos olhos? Mas por que razão não se corta nos ordenados escandalosos dos políticos e administradores? Alguns deles que nada fazem. Por que razão não se selecciona criteriosamente as pessoas que mexem no dinheiro dos contribuintes e com ele fazem contas de "sumir"? Por que razão os vários escândalos que vemos na televisão não levam os seus responsáveis à prisão e não fazem com que o dinheiro "sumido" volte à sua origem? Será que têm que ser os trabalhadores, aqueles que realmente põem este país e o mundo a funcionar, a pagar a factura dos que se passeiam nos "porches" e "ferraris" a caminho das suas mansões?
Educação ou falta dela. Diariamente olho para o meu mundo, para o meu trabalho, e vejo como as políticas educativas são pensadas. O importante é gastar menos, mesmo que em causa possa estar a formação futura dos jovens. Fico desanimado ao ver a crescente onda de indisciplina e nada é feito para travar tal facto. Fico abismado com o discurso de que tudo é normal. E tudo é passível de ser exigido aos professores que trabalham cada vez mais, com menos condições e mais desiludidos.
Não, nada disto é normal e benéfico para uma sociedade! Se queremos um sociedade mais justa, mais igualitária, mais harmoniosa, mais interessante, mais estável, temos que apostar seriamente na educação sem olhar a custos.
Só assim conseguiremos formar aqueles que no futuro deverão saber decidir e gerir um estado de coisas que espero ser bastante melhor do que aquele que temos agora.
Nuno Garção
Onde está a esperança?
Enfim, pergunto-me o que se está a passar à minha volta. E com este estado de coisas confesso que às vezes me apetece ser como a avestruz. É óbvio que não consigo fechar os olhos para viver a minha vida. A recente comemoração do 25 de Abril fez-me pensar que temos que dizer, cada dia e em voz bem alta, aquilo que pensamos sobre este estado de coisas, que deveriam envergonhar governantes e pessoas com cargos de responsabilidade.
Economia. As últimas notícias apontam para a especulação e a pressão que alguns "senhores" fazem sobre os países que acumulam um volume de dívida externa elevado. Fico mesmo sem saber se são estes senhores quem devo odiar pela especulação a que nos têm ultimamente habituado ou aqueles que irresponsavelmente nos vão colocando nesta situação de dependência.
Riqueza e pobreza. Afinal, como é possível que neste jogo continuemos a ver pessoas a enriquecer de forma escandalosa enquanto que a maioria vai ficando cada vez mais pobre, sem condições para viver e sujeitas aos caprichos de quem manipula os mercados. Afinal, não será esta uma nova ditadura em que tudo parece democracia, mas na realidade é algo controlado por um "big brother" que estuda os movimentos da sociedade, se alimenta com uma ganância desmedida e com o aval da classe política que gere sem preocupação e sem respeito o que é de todos nós? Triste figura de quem enriquece à custa daqueles que vão ficando sem emprego, sem possibilidade de dar uma vida digna aos filhos e de poder desfrutar deste mundo que também é seu. Triste figura de quem não consegue olhar para o lado e perceber que se trata de um semelhante... Estou certo que cada um de nós também tem alguma culpa neste estado de coisas: não é por acaso que há dois dias fiquei escandalizado pelo facto das três pessoas que estavam à minha frente numa caixa de uma loja de uma grande superfície efectuarem as suas compras pedindo créditos. Olhei com mais atenção e reparei que uma delas o fazia para comprar bens de primeira necessidade...
A desculpa da crise. Vejo mais algumas notícias e ouço falar em cortes, cortes na função pública e obviamente (por arrasto) nos trabalhadores do privado. Mais uma vez pergunto: Mas por que razão esses cortes são imputados aos que realmente trabalham? Não são eles que andam a pagar as sucessivas crises que nos atiram aos olhos? Mas por que razão não se corta nos ordenados escandalosos dos políticos e administradores? Alguns deles que nada fazem. Por que razão não se selecciona criteriosamente as pessoas que mexem no dinheiro dos contribuintes e com ele fazem contas de "sumir"? Por que razão os vários escândalos que vemos na televisão não levam os seus responsáveis à prisão e não fazem com que o dinheiro "sumido" volte à sua origem? Será que têm que ser os trabalhadores, aqueles que realmente põem este país e o mundo a funcionar, a pagar a factura dos que se passeiam nos "porches" e "ferraris" a caminho das suas mansões?
Educação ou falta dela. Diariamente olho para o meu mundo, para o meu trabalho, e vejo como as políticas educativas são pensadas. O importante é gastar menos, mesmo que em causa possa estar a formação futura dos jovens. Fico desanimado ao ver a crescente onda de indisciplina e nada é feito para travar tal facto. Fico abismado com o discurso de que tudo é normal. E tudo é passível de ser exigido aos professores que trabalham cada vez mais, com menos condições e mais desiludidos.
Não, nada disto é normal e benéfico para uma sociedade! Se queremos um sociedade mais justa, mais igualitária, mais harmoniosa, mais interessante, mais estável, temos que apostar seriamente na educação sem olhar a custos.
Só assim conseguiremos formar aqueles que no futuro deverão saber decidir e gerir um estado de coisas que espero ser bastante melhor do que aquele que temos agora.
Nuno Garção
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